VVD PR – Trilho da Moura


Descrição do percurso: abrir folheto

Dificuldade: Fácil
Última atualização: 07/05/2017

 

A lenda

moura

 

Todas as manhãs, uma mulher de cântaro à cabeça descia o Monte de S. Julião para ir buscar água ao rio, era de uma família pobre e trabalhava para um lavrador rico.
Um dia, uma cobra enorme desceu dos penedos junto ao caminho e atravessou-se-lhe no caminho, ao vê-la, a mulher deu um grito e ficou muito assustada.
– Não te assustes, mulher! – disse-lhe a cobra.
A mulher, quando viu a cobra a falar, ainda se assustou mais.
– Acalma-te, que eu não te faço mal.
– Que me queres? – perguntou a mulher a tremer como varas verdes.
– Eu não tenho prata nem ouro, trago apenas este cântaro para ir buscar água.
A cobra respondeu:
– Eu não quero nem prata nem ouro, disso tenho eu de sobra, e muito menos água.
– Então que me queres?
– Precisava que me fizesses um favor.
– Um favor? – perguntou a mulher ainda mais assustada.
Então a cobra contou a sua história:
– No tempo em que estas terras ainda eram dos Mouros, um senhor muito rico tinha uma filha muito bonita, mas um dia os cristãos invadiram as terras e o senhor resolveu partir com toda a sua gente, deixando a filha encantada a tomar conta do tesouro que escondeu debaixo de um penedo. Embora já tivessem passado mil anos, a donzela ainda vive. Essa donzela sou eu.
Um tanto confusa, a mulher perguntou:
– Mas tu és uma cobra.
– Foi o meu pai que me encantou.
A mulher, olhando para o adiantado da hora, disse:
– Tenho de ir andando, preciso de ir buscar água ao Rio Homem.
– E quanto ao favor que te pedi? Se mo fizeres, todas as riquezas que eu guardo serão tuas. Estou farta de ser cobra. Preciso de quebrar o encantamento para voltar a ser uma donzela.
– E que tenho eu de fazer?
– Dar-me um beijo. Só precisas de me dar um beijo para que todas as minhas riquezas sejam tuas.
– Vou pensar – respondeu a mulher.
– Amanhã, à mesma hora, irei ao teu encontro, pelo teu corpo subirei, na cara me beijarás e todas as minhas riquezas serão tuas.
No dia seguinte, a mulher ia com o cântaro de água à cabeça, e lembrou-se do que tinha acontecido no dia anterior, e ficou com medo de passar pelo mesmo local, mas não havia outro caminho e metera-se-lhe na cabeça aquela ideia do tesouro. Com ele podia deixar de trabalhar para o patrão.
Ao aproximar-se do local do dia anterior, voltou a encontrar a cobra, o réptil rastejou até ela, enroscou-se-lhe pelas pernas acima e chegou-lhe com a cabeça perto da cara. A mulher olhou-a com grande nojo e medo e, ao ver aquela língua de fora, os olhos pequenos e fixos como os do diabo, as escamas peganhentas, deu um grito:
– Ai Nossa Senhora valei-me!
Ouviu-se um grande estrondo e uma voz que dizia:
– Ah, maldita, que me traíste!
A partir de então, a mulher não mais encontrou a cobra, embora não se sentisse lá muito segura quando tinha que passar naquele caminho com o cântaro à cabeça.

(Texto adaptado)

 

Mais informações na página dos Pioneiros CNE 617 Coucieiro.